Antes de iniciarmos a review, gostaria de agradecer à Dumativa por nos fornecer o game e possibilitar que este material fosse criado.

Arte, Som e Enredo: Um Mergulho no Fascinante Perímetro

A Ordem Paranormal traz um universo em que criaturas paranormais existem e elas podem romper a barreira que existe entre nosso mundo e o Outro Lado a partir do medo. Ora, fica a pergunta: o que causa tanto medo? E como lutar contra esse ser? Mais que isso, como lutar contra o medo? Em “Enigma do Medo”, teremos que passar por algumas dessas reflexões durante nossa aventura na tentativa de resgatar o Senhor Veríssimo, o líder do grupo Ordo Realitas (organização dedicada a lidar com o paranormal). 
 

Inicialmente, nos vemos como Mia, a filha do Senhor Veríssimo, acompanhada de seus parceiros Sam e Agatha no intuito de salvar o seu recém desaparecido pai. Estamos prestes a adentrar o Perímetro, um local que até então era inexistente, mas que, aparentemente, há anos a Ordem realizava investigações de grande calibre. Vou me deter por aqui para não dar muitos spoilers, uma vez que o enredo e os fatos devem ser apresentados conforme você progride no game – afinal, o jogo é de mistério né –.

Essa breve introdução do contexto de Enigma do Medo se dá enquanto você chega ao Perímetro e começa suas investigações na Mansão Strach. As primeiras impressões que o game deixa, enquanto isso, são extremamente positivas, principalmente a se tratar das questões artísticas: o enredo e toda a lore, a arte visual num todo, os gráficos, o design de mundo e a iluminação, assim como os aspectos de áudio do jogo, como a dublagem e a trilha sonora, tudo é apresentado com grandessíssima qualidade.

O enredo do jogo é super cativante e tem um desenvolvimento numa velocidade que deixa tudo muito agradável e digerível. Te deixa curioso, ao mesmo tempo que não demora para que você consiga as informações e progrida. Enigma do Medo é um mistério que não te deixa frustrado, só cada vez mais cativado. É muito divertido explorar todo o Perímetro e ir entendendo o que aconteceu na operação da Ordem, assim como o que é o Deus do Medo e o Enigma do Medo. Como eu disse, a progressão da narrativa é incrível e cativante. 
 

O estilo de arte do jogo me agrada muito, mistura pixel art com algumas texturas e iluminações mais realistas que dá uma maior possibilidade para se ter cenários mais ricos com maior detalhamento – nesse sentido, me lembra um pouco Core Keeper, que também possui essa mesclagem de estilos e também tem um visual muito lindo –. Dumativa faz um trabalho incrível no design de mundo de Enigma do Medo e traz cenas riquíssimas que te deixam completamente imerso no universo. Os documentos que você encontra durante a exploração são tão bem feitos que te dá gosto de ler – dá para perceber o carinho que o jogo foi feito –. Você encontra diversas fotos, cartas e relatórios que vão te contando a história daquele local conforme você progride e todos eles são muito bem construídos, o que te faz imergir naquele universo muito facilmente.

Isso sem falar das trilhas e efeitos sonoros que nos acompanha em nossa aventura. Eles integram você na pele de Mia e te mantém desconfortável grande parte de sua exploração acerca do Medo. As melodias das soundtracks e os efeitos sonoros te passam o sentimento de algo anormal, de insegurança e de terror o tempo todo. Acredito que o medo é muito mais facilmente induzido pelo som do que pela visão – sinto que a estranheza causada pelo áudio é muito mais primitiva e incontrolável – e, nesse aspecto, Enigma do Medo entrega um trabalho para survival horror incrível.

Em questões artísticas, quis deixar por último a dublagem porque é tão boa que me deixa até sem palavras. Temos no elenco do jogo dois dos maiores nomes da atuação de voz no Brasil, Wendel Bezerra e Guilherme Briggs, que fazem mais um trabalho incrível em conjunto com os demais artistas. Facilmente é uma das melhores dublagens de jogo brasileiro – e como todos sabemos, a dublagem brasileira é uma das melhores, senão a melhor do mundo, o que nos deixa com um jogo com uma atuação de voz de qualidade premium –, quiçá do mundo. 
 

Para finalizar minha sessão de elogios, gostaria de falar também sobre os quebra-cabeças e o mistério que Enigma do Medo nos oferta. Os puzzles, no geral, possuem uma boa dificuldade, ou seja, não são nem tão difíceis a ponto de você querer abandonar o game, nem tão simples que você vai conseguir resolvê-los sem nem ao menos pensar e repensar mais uma vez. Para mim o mais incrível é o fato de os enigmas sempre estarem relacionados com o enredo e contexto do jogo, tornando tudo mais imersivo e construindo um mundo cativante. Todos os quebra-cabeças estão vinculados com a progressão da história, com o universo e com os personagens, o que torna a experiência muito mais viva e divertida.

Entre Polimento e Desafios: As Mecânicas de Enigma do Medo

Apesar da parte artística ser incrível, infelizmente não avaliarei o jogo como inteiramente excelente. Isso por conta de algumas limitações tecnológicas e controles e mecânicas de combate que acredito que poderiam ser um pouco mais polidas. 

Iniciando pela questão tecnológica: penso que a otimização gráfica do jogo poderia ser um pouco mais bem trabalhada, uma vez que existem cenários que o jogo bate 80-90 de fps (frames per second), enquanto outros o jogo fica capado em 35 fps. Apesar de eu não ser nenhum grande entendedor da área, acredito que seja algo relacionado à iluminação e sombreamento do jogo, pois os ambientes que possui maior queda de frames são aqueles que possuem mais objetos com diferentes texturas, o que implica em mais sombreamentos e mais efeitos de iluminação. Enfim, o que importa, de fato, para nós jogadores é que o jogo está rodando mal em determinados cenários – isso porque meu computador está bem acima dos requisitos recomendados... então creio que jogadores com PCs mais básicos não conseguirão rodar o game com facilidade –.
 

Em seguida, gostaria de falar sobre os controles e mecânicas de combate. No geral, o combate do jogo é bem simples: você pode atirar nos inimigos e golpeá-los com ataques corpo a corpo, ao passo que não possui esquiva, nem defesa (a não ser quando você está jogando com o Sr. Veríssimo). Os tiros são a forma mais fácil de derrubar os oponentes, entretanto, nem sempre os tiros pegam, mesmo que a mira está em cima deles. O ataque corpo a corpo, em contrapartida, é tenebroso... A não ser que você fique correndo de um lado para o outro para forçar o adversário errar o ataque para que aí sim você golpeie. Nessa lógica, se fosse para jogar assim, acredito que faria sentido ter um comando de esquiva – sinto um pouco de falta de poder bloquear ou esquivar, mas entendo também que faz parte do gênero survival horror –. Por fim, sinto que o combate corpo a corpo não é efetivo, nem divertido.

Outra mecânica existente no jogo é a possibilidade de eliminar alguns oponentes de maneira silenciosa (stealth). Basta você se agachar para realizar menos barulho e poder pegá-los por trás. Entretanto, é uma mecânica que muitas vezes te deixa na mão pois os inimigos simplesmente enxergam você se você não estiver completamente atrás deles. Então não é como se ela não fosse útil, pelo contrário, a eliminação stealth te economiza munição e é bem rápida, entretanto, algumas vezes o oponente simplesmente te percebe mesmo que você esteja fazendo o que supostamente estava certo para que ele não te notasse.
 

Um Marco no Cenário Brasileiro de Jogos

Apesar das minhas últimas críticas, penso que ao colocar os pontos positivos e negativos na balança teremos que os positivos são muito mais pesados e impactam muito mais na experiência que os negativos. Entretanto, acho importante ressaltar tais análises pois são esses detalhes e polimentos que transformam um bom ou ótimo jogo em excelente ou em obra-prima. 

Por fim, penso em Enigma do Medo como um grande jogo a deixar sua marca na história dos jogos eletrônicos brasileiro, seja por sua qualidade ou pelo seu divertimento. É um projeto que, por ser inteiramente brasileiro, me deixou muito feliz quando joguei e percebi o quão bom estava, como se fosse uma sensação de orgulho. É um jogo muito artístico que nos cativa e nos imerge em seu universo e, portanto, recomendo a todos àqueles que buscam um jogo com uma pegada misteriosa e enigmática com elementos de terror.

Lembrando que, para a produção desta review, Enigma do Medo foi jogado na plataforma Windows (PC), pela Steam.