Assassin’s Creed Shadows inova, mas carrega o fardo do passado | Review
Mudanças para o bem e para o mal
Antes de começar a falar do game em si, vou compartilhar com vocês que tenho um carinho muito grande pela franquia Assassin’s Creed, pois o primeiro jogo da série foi um grande aliado quando estava enfrentando a depressão. Claro, por mais que o jogo não tivesse nenhum tipo de refinamento, atividades extras pelo Egito antigo, personagens marcantes ou coisa do tipo, as mecânicas de parkour estão lá e sem dúvida que o game era um embrião do colosso de estava a vir com a saga de Ezio Auditore, que na minha opinião são os grandes momentos de Assassin’s Creed.
Por mais que praticamente ninguém ligasse para a história de Desmond Miles, considerava que a Ubisoft fazia um bom trabalho em manter um certo mistério entrelaçando dois períodos distintos, no qual as escolhas do passado poderiam revelar quais passos seguir para um melhor futuro. Enredo esse que foi se perdendo a cada jogo, até que os próprios desenvolvedores não sabiam muito bem o que fazer com o pobre herói.
Com um gameplay engessado e muitos jogos lançados em pouco tempo, o público em geral foi ficando saturado da fórmula, que mesmo com inovações interessantes, como o combate de barcos em Assassin’s Creed IV: Black Flag, os irmãos Frye em Sindycate, a fórmula havia desgastado, fazendo com que a Ubi tomasse a sábia decisão de colocar o pé no freio e reapresentar a série como jogos RPG, trazendo um lado mais explorador, evolução de personagens e mundos sem fim. Um baita acerto, mas que não agradou os mais puristas.
O fato é que a franquia está até hoje tentando retornar aos seus momentos de glórias unânimes, mas a sensação é de que está faltando algo...esse que também é o meu sentimento ao longo de mais de 10 anos ao lado do Animus.
Bem-vindo ao Japão Feudal
Não há dúvidas que Assassin’s Creed Shadows aguçou a curiosidade de muitos jogadores pelo fato de finalmente trazer o Japão como palco para ser explorado. Não é de hoje que já imaginávamos o quanto seria incrível ter um ninja como personagem principal e usar todas as suas técnicas para executar seus alvos e não ser visto. Só que os desenvolvedores fizeram mais e foram além.
Assassin's Creed Shadows se passa no final do período Sengoku, que ocorreu entre os séculos XV e XVI. Esse período da história japonesa é marcado por uma série de batalhas, algumas das quais são retratadas no jogo, além de contar com figuras marcantes da época, além de todo glamour dos cenários, o que deixa tudo ainda mais imersivo.
A trama se desenrola em um momento em que o poderoso líder militar Oda Nobunaga estava no auge de sua força, após invadir a província de Kyoto e conquistar uma série de vitórias contra seus inimigos. Nobunaga também havia invadido a província de Iga, famosa por abrigar uma grande quantidade de shinobis. Mas até onde vai a força de Nobunaga?
Mais uma vez a Ubisoft mergulha fundo na parte histórica narrada, detalhando muito do que é contado nos livros e pelos mais antigos. Falar disso já está até leviano, de tão normal que tem sido a fidelidade dos desenvolvedores com as eras apresentadas nos games.
Chama a atenção que o game está 100% dublado em português, mas aqui fica uma crítica pelo uso excessivo de termos atuais, descaracterizando a época representada.
A velocidade e força em conjunto
Dentro desse cenário, somos apresentados aos dois personagens principais do jogo, que com certeza são a maior novidade do game e que foram um acerto muito grande para o desenrolar do enredo, especialmente da forma como as histórias são entrelaçadas de uma forma natural, sem parecer forçada.
Naoe é uma ninja que sofreu duras represálias durante a passagem de Nobunaga pela região em Iga e busca vingança, nem que seja a última coisa que ela faça. Enfrentando o que há de pior durante sua adolescência, a shinobi precisou conhecer toda a história já contada pelos seus familiares para entender como o legado de seu povo deve ser utilizado para conquistar seus objetivos.
Já Yasuke, é um guerreiro resgatado e treinado pelo próprio Oda Nobunaga logo no início da aventura. Ele se transforma em um habilidoso samurai através dos ensinamentos de seu mentor, ficando cada vez mais forte e virando uma máquina de combate. No entanto, ao longo de sua jornada, ele começa a questionar os métodos de seu mentor e passa a buscar um novo propósito para sua vida. Juntos, Naoe e Yasuke se unem em uma jornada única, com objetivos que vão além da simples luta por vingança ou honra.
Escolha como lutar
A essa altura do campeonato, você já percebeu que o gameplay de Naoe é focado nas origens da franquia, fazendo uso de suas habilidades ninjas para não ser notada durante uma invasão ou até mesmo ao fugir de uma cerca formada por inimigos. Não que ela não seja forte o bastante para enfrentar seus desafios, mas seus métodos de combate são estilosos, meticulosos.
Os movimentos de Naoe são encantadores, de tão bem executados, calculados minuciosamente. A forma como ela é capaz de escalar paredes faz até mesmo o lendário Ezio Auditore aplaudir.
Já o incrível Yasuke é um verdadeiro tanque de guerra. Durante minha experiência com Assassin’s Creed Shadows, nunca passou pela minha cabeça estar enfrentando um número maior de inimigos que o samurai não fosse capaz de derrotar em questão de segundos. Ele possui golpes tão poderosos que apenas um hit é capaz de destruir o seu alvo. É satisfatório realizar finalizações e sentir o peso de cada golpe desferido por ele.
E o melhor de tudo é que em 90% da aventura você pode intercalar entre os dois personagens, o que traz muito dinamismo para o game e fluidez. Claro, você pode acabar com um exército com Naoe, assim como é possível passar por lugares sem ser percebido com Yasuke, mas sabe quando algo não faz sentido algum? É exatamente esse o sentimento. Chega a ser cômico o samurai executar um salto de fé, completamente desajeitado para realizar tal feito.
Fica o registro para a precisão do controle, no qual em cada mero apertar de botões pode fazer toda a diferença, apesar do mesmo não poder ser dito em relação a falta de mapeamento.
Um Japão aos seus pés
Se estamos falando de Assassin’s Creed, certamente estamos falando de um mapa gigantesco, quase sem fim, além de uma série de missões secundárias e atividades extras para serem realizadas e tirarem um pouco da pressão que as missões possuem.
Logo de cara, chama a atenção em como você não necessariamente precisa do mapa para se locomover e realizar os objetivos. Claro que você pode, mas em diversas ocasiões deixei a vida me levar e confesso que foi muito prazeroso ir encontrando vilas, conversando com NPC’S, rezando em templos e descobrindo mais do passado dos personagens...me senti livre das amarras da mecânica de “limpar” o mapa.
Em suma, você vai utilizar seu cavalo para se locomover, mas saiba que existem viagens rápidas e até mesmo a possibilidade de usar um gancho com Naoe para subir nos telhados, chegar em torres e invadir castelos.
O jogo apresenta também a possibilidade de você montar sua própria base e ir aprimorando, até um ponto que vire uma verdadeira fortaleza. Você deverá coletar determinados itens para que cada vez mais seu refúgio seja intransponível. Ainda sobre esse sistema, será possível posicionar objetos, deixar espaços entre as casas, da mesma forma como The Sims.
Entre tantas outras mecânicas, você será capaz de reunir outros assassinos para cumprirem missões secundárias, assim como funcionava em Assassin’s Creed Brotherhood. Um acerto da Ubisoft, que só não é perfeito pois as mecânicas acontecem em um curto período de tempo e poderiam ser melhor explicadas. Mas claro, você vai pegando o jeito do negócio.
Características do RPG
Assim como manda a cartilha de um bom RPG, Naoe e Yasuke adquirem pontos de maestria, que podem ser distribuídos em uma árvore de habilidades, mas com o diferencial dos mesmos poderem ser redistribuídos conforme seu estilo de jogar.
A medida que você evolui, novos ramos são desbloqueados na arvore de habilidades, o que vai refinando ainda mais o seu estilo de jogar, o que faz com que a experiência de cada jogador seja única.
Não só isso, mas as armaduras do game são personalizáveis e são divididas em comuns até lendárias, dependendo do nível que você está. As armas também possuem essa distinção e podem ser aprimoradas em uma forja, assim como visto em outros jogos de samurais e ninjas.
A dança do combate
Um dos pontos que mais me chamou atenção em Assassin’s Creed Shadows é em como o combate está mais tático, mesmo com a utilização de Yasuke. Não só os golpes estão extremamente mais violentos, mas é necessário em diversas vezes usar a mecânica de parry, comumente presente em jogos souls-like. Calma, não estou comparando um com o outro.
Naoe é capaz de puxar inimigos com seu gancho e fazer vantagem das sombras ao seu favor e não ser notada, tornando-se uma ninja implacável. Não só isso, mas agora também é possível rastejar e usar a vegetação para matar inimigos silenciosamente.
Apesar de Yasuke ser um tanque, nem por isso ele deixa de fazer belos movimentos com suas espadas, especialmente para finalizar inimigos de forma brutal. Realmente a Ubisoft pesou a mão no combate, deixando o jogo ainda mais visceral.
A beleza do ambiente ao seu favor (ou contra)
É muito prazeroso andar pelos cenários de Assassin’s Creed Shadows, sempre muito bem representados com vida, especialmente quando envolve as Cerejeiras. Sempre um vislumbre passar correndo pelos campos e contemplar.
Apesar da beleza dos cenários, ainda fica a impressão da reciclagem dos moldes dos personagens. A sensação que tive em diversos momentos é de ainda estar jogando Assassin’s Creed Origins ou Odyssey. É claro que há uma melhora por ser outra geração, mas não me pareceu algo muito significativo.
Ainda sobre a forma como abordamos inimigos e concluímos as missões, devemos levar em consideração o clima, que agora é dinâmico. Por exemplo, no verão, diversas invasões podem ser feitas por lagos, cabendo ao personagem nadar pelo percurso e até mesmo atacar inimigos por baixo d’agua. Mas já no inverno, o lago está congelado e será necessário buscar uma nova alternativa.
Outro exemplo é com relação a chuva, que faz com que a audição dos inimigos fique mais prejudicada devido ao barulho, o que faz com que você seja beneficiado pelo clima, até mesmo para locomover-se. Assim como a neve faz com que cada movimento seja mais lento e pesado para andar.
Um respiro para a Ubisoft
Não há dúvidas que a Ubisoft fez uma série de modificações no gameplay de Assassin’s Creed Shadows, trazendo uma série de inovações no gameplay, especialmente com relação ao combate mais visceral, além da possibilidade de deixar os personagens muito bem moldados ao gosto de cada um.
Mas a sensação é de que ainda é um jogo que bebe demais das fontes de seus antecessores, como se trocasse apenas a ambientação, muito pelo fato dos gráficos serem parecidos. A sensação é de a alma da franquia está vagando pelo ar, esperando que alguém a traga de volta.
Talvez seja apenas a minha sensação, de que o game perdeu a sua essência e deve ser encarado como um novo projeto da Ubisoft, mas que ainda carrega a alcunha da hidden blade e do Credo dos Assassinos.
Está análise foi realizada em um PS5, com a cópia do game gentilmente cedida pela publisher.
Nota
Sobre o jogo
Assassin's Creed Shadows
- Data de lançamento: 20 de março de 2025
- Desenvolvedora(s):
- Publicadora(s):
- Modo(s) de Jogo: Single player
- Plataforma(s):
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