A selva observa: Metal Gear Solid Δ e o peso de reviver Snake Eater | Review
Jogar Metal Gear Solid Delta: Snake Eater é reencontrar um clássico que manteve intacta sua essência. A atmosfera da selva, que já era impressionante no original, agora é um espetáculo visual: árvores que se movem ao vento, rios que refletem a luz do sol e uniformes que se sujam conforme Snake se arrasta pelo terreno. É quase impossível não parar alguns segundos para apenas observar o ambiente, que deixa de ser cenário para se tornar um verdadeiro personagem vivo. A sensação de estar cercado pela selva é tão forte que a imersão acontece naturalmente.

A selva como personagem
Uma das primeiras coisas que salta aos olhos é a forma como a selva soviética foi recriada. Em 2004, já parecia impressionante ver Snake se camuflando no mato. Agora, cada folha, gota de chuva e feixe de luz interage com o personagem de forma dinâmica.
O uniforme de Snake se suja, cicatrizes aparecem após ferimentos, e até pequenos detalhes — como folhas grudadas na roupa ou reflexos na lama — ajudam a transformar o ambiente em um inimigo silencioso. A floresta não é só cenário; é um personagem vivo, que reage ao jogador.
Essa atmosfera cinematográfica faz você parar alguns segundos só para observar, respirar fundo e lembrar: “é isso, é por isso que Metal Gear Solid sempre foi diferente de qualquer outro jogo de stealth.”

Jogabilidade: tradição com fluidez
Se os visuais impressionam, a jogabilidade é o ponto onde a Konami conseguiu equilibrar respeito ao passado com adaptação ao presente. O remake oferece duas formas distintas de jogar: o Legacy Style, que reproduz fielmente a experiência clássica do PlayStation 2, com câmera rígida e controles mais pesados, e o New Style, que moderniza tudo com câmera livre em terceira pessoa e comandos mais fluidos, alinhados aos padrões atuais do gênero.
Essa escolha foi um acerto enorme, porque agrada tanto os puristas que querem reviver o jogo exatamente como lembram, quanto os novos jogadores que buscam uma experiência mais acessível. Todas as mecânicas de sobrevivência estão de volta — camuflagem, tratamento de ferimentos, caça para manter a energia de Snake — e ainda que algumas delas continuem dependentes de menus que quebram o ritmo da ação, a sensação geral é de um gameplay mais coeso e natural.
O stealth permanece como o coração pulsante do jogo, exigindo paciência, frieza e criatividade em cada movimento, com aquele sabor único de recompensa quando um plano arriscado dá certo.

Uma narrativa que atravessa gerações
Poucos jogos conseguem entregar uma história que permanece relevante e impactante décadas após seu lançamento, e Snake Eater é um desses raros casos. O remake mantém a narrativa intacta, sem alterações, e isso é uma das suas maiores virtudes. A missão de Snake, ambientada no auge da Guerra Fria, mistura espionagem, política e dilemas morais com uma densidade que muitos títulos modernos ainda não alcançam.
O relacionamento com The Boss continua sendo o centro emocional da trama, e cada cena carrega um peso dramático que vai além do entretenimento, se aproximando de uma tragédia clássica. Mesmo já conhecendo o desfecho, reviver aqueles momentos em Δ é como assistir a uma peça de teatro que nunca envelhece: você sabe o que vai acontecer, mas a força da interpretação e a profundidade da mensagem continuam tocando fundo.
Para os novos jogadores, é a oportunidade de descobrir um dos roteiros mais marcantes da história dos videogames; para os veteranos, é a chance de sentir de novo aquele impacto que parecia perdido no tempo.

Som que sufoca e emociona
Se os olhos se encantam com os visuais, os ouvidos ficam em alerta com a atmosfera sonora. A icônica música tema “Snake Eater” retorna em toda a sua glória, com arranjos que ainda evocam a grandiosidade de um filme de espionagem dos anos 60.
Mas é no design de som que o remake realmente brilha: cada galho que se parte sob os pés, cada respiração ofegante em uma fuga, cada ruído distante na selva aumenta a tensão e a imersão. Jogar com fones de ouvido é quase sufocante — a selva deixa de ser apenas um ambiente visual e passa a ser uma presença constante, pressionando e cercando o jogador a cada instante.
É aquele tipo de trabalho sonoro que não apenas complementa a experiência, mas a transforma em algo visceral, em que cada detalhe pode significar sobrevivência ou fracasso.

Charme e fricções do original
Apesar de todo o polimento, Metal Gear Solid Δ: Snake Eater não esconde que nasceu de um jogo de 2004. Algumas escolhas de design permanecem, para o bem e para o mal. O uso de menus para camuflagem e tratamento ainda quebra a fluidez, certas batalhas continuam exigindo tentativa e erro e a câmera pode se tornar incômoda em ambientes internos.
Para os veteranos, esses detalhes carregam um charme nostálgico; para os novatos, podem soar como barreiras desnecessárias em tempos de interfaces mais diretas. O fato é que a Konami optou por preservar a essência do clássico a todo custo, mesmo que isso significasse manter também algumas de suas arestas.
É uma decisão que pode dividir opiniões, mas que, ao mesmo tempo, garante a autenticidade de um remake que não quer substituir o original, e sim celebrá-lo.
Agradecemos a Konami pelo envio da chave de Metal Gear Solid Delta: Snake Eater para essa análise.
Nota
Sobre o jogo
Metal Gear Solid Delta: Snake Eater
- Data de lançamento: 28 de agosto de 2025
- Desenvolvedora(s): Konami
- Publicadora(s):
- Modo(s) de Jogo: Single player
- Plataforma(s): PC (Microsoft Windows), PlayStation 5, Xbox Series X/S
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