Em casa

A história de Senua’s Saga: Hellblade II começa exatamente após os acontecimentos do jogo anterior, no qual a protagonista viajou até os confins do inferno para resgatar a alma de seu amado, Dillon, morto em combate por invasores vikings que destruíram sua vila, mas fracassa miseravelmente. Como nem tudo foi em vão, Senua acaba por compreender melhor sua situação esquizofrênica e passa a conseguir aliados que povoam sua mente. 

Agora, Senua parte para a Islândia, sedenta por vingança. E logo no início, percebemos que a tarefa não será nada amigável, pois após embarcar em um navio inimigo, o mesmo é destruído pelas forças da natureza, mostrando que os vikings são apenas alguns dos inimigos que irão aparecer no caminho. Sem contar outros percalços, como Deuses, amigos com outras intenções, entre outras animosidades.

O início do game já nos mostra de maneira muito cinematográfica que muitos dos aspectos que presenciamos na primeira aventura estão presentes, nos fazendo lembrar como o jogo é visceral e como ele é capaz de transmitir todo o sofrimento e agonia da personagem. É altamente recomendado por esse que vos escreve que você tenha um breve conhecimento da primeira aventura para não cair de paraquedas na continuação da história.



A história de Hellblade II vai muito além do que uma busca por vingança, mas trata de assuntos extremamente delicados, como esquizofrenia, depressão, auto depreciação, entre tantos outros temas. Não são poucas as vezes que nos colocamos na pele da protagonista que não enxergamos aspectos da sociedade que sempre foram tratados como tabus.

Características peculiares

Confesso que não sou adepto de jogar com fones de ouvido, mas em Hellblade II este item é absolutamente indispensável, especialmente ao selecionar o áudio com recursos de ambientação 3D, que traz um som similar ao que Senua está ouvindo as vozes em sua cabeça. Vale ressaltar que no início pode ser até um pouco perturbador, pois realmente estamos falando de uma imersão muito grande.

Chama a atenção em como o foco do gameplay é baseado em cutscenes , fazendo com que em diversas oportunidades eu ficasse em dúvida se era algo jogável ou não. Ainda mais pela escolha das barras pretas na parte superior e inferior da tela. Claro que muito disso também acontece pela “culpa” dos gráficos magistrais. Talvez não seja muito exagero dizer que Hellblade II é quase um walking simulator.

Como já estava familiarizado com Hellblade I, minha expectativa era de algo similar na continuação, mas não há dúvidas que um novato na série ao assistir o primeiro trailer possa ter ficado com a impressão errada, de tratar-se de um jogo com muito combate, missões secundárias, um mundo vasto de surpresas e mais de quarenta horas de gameplay para completar os 100%. A verdade é que em cerca de 8 horas a aventura pode ser terminada, sendo preciso mais uma jogada para terminar tudo, e isso pode frustrar algumas pessoas. Confesso estar de acordo com a duração de um jogo quase que cinematográfico como um todo.



Combate visceral

Com uma câmera sob os ombros, Hellblade II traz leves melhorias no combate, deixando Senua mais à vontade para esquivar ou executar uma aparação entre golpes fracos e fortes. Mas caso você esteja se perguntando como está a sensação de estar na pele da personagem, fico feliz em dizer que está exatamente a mesma.

O trabalho da Ninja Theory em fazer com que possamos sentir até mesmo o peso da espada de Senua, suas esquivas um pouco mais demoradas, os golpes acertados pelos inimigos é algo extraordinário. Apesar das lutas serem escassas, cada combate é digno de cinema, de fazer você suar frio e vibrar quando o duelo é terminado com êxito ao seu favor.

Cada luta tem sua peculiaridade e a sensação de estar sempre um golpe atrás é constante. Aqui não existem combos com mais de 2 ataques. Caso você não tenha paciência estará sempre na corda bamba para ser derrotado ou contra golpeado a qualquer momento. A pressa é sua pior inimiga, definitivamente.

Ambientação memorável

Não posso deixar de mencionar como Senua’s Saga: Hellblade II pode ser considerado um marco na indústria dos jogos de maneira visual. Literalmente toda a ambientação é maravilhosa, até mesmo os personagens, chão, água, efeitos...até mesmo em um Xbox Series S, como foi o meu caso.

A captura de movimento facial consegue trazer todos os sentimentos presentes ao longo da saga de Senua, vivida pela talentosa Melina Juergens. Não posso deixar de mencionar ainda sobre o combate, em como as lutas durante a noite são ainda mais memoráveis, ainda mais com o auxílio do áudio e as vozes sempre mexendo com a situação. É de se aplaudir de pé.

Confesso que utilizei o modo foto em diversos momentos e você certamente deveria fazer o mesmo, que essa capacidade não seja uma de suas melhores qualidades (assim como não as minhas), mas é algo que beira o inacreditável em como a Unreal Engine 5 está sendo utilizada por aqui.



Um mundo solitário

Mesmo com um ambiente incrível, não posso de deixar de comentar que a jornada é extremamente solitária, com muitas cenas sem criatividade e com raras conversas com outros personagens. E isso pode incomodar muitos jogadores, ainda mais pelo fato do gameplay ser reduzido apenas em resolver alguns puzzles relacionados à feixes de luz e símbolos nórdicos. Nada que vá tomar muito o seu tempo para decifrá-los.

Nesse ponto o jogo pode se tornar até mesmo entediante, mas as vozes em sua cabeça misturados com a narrativa deixam tudo um pouco mais interessante. O que eu quero dizer aqui é que se você não estiver disposto a entender a proposta do game, realmente é um título que não fará nenhum tipo de efeito para seu impacto.

O que considero ser o grande diferencial em Hellblade II é a sensação de medo e insegurança que Senua é capaz de transmitir, algo nunca por mim em nenhum outro jogo. Toda sua história, traumas, experiências passadas são capazes de fazer com que você realmente sinta-se tocado.

Senua’s Saga: Hellblade II foi jogado em um Xbox Series S, via Xbox Game Pass.