Metaphor: ReFantazio é a porta de entrada para embarcar no gênero JRPG | Review
Um 2024 dourado
Desenvolvido pelo Studio Zero e publicado pela Atlus, Metaphor: ReFantazio certamente vem para coroar um ano fantástico para a publisher japonesa. Com lançamentos muito bem-conceituados como Persona 3 Reload, Shin Megami Tensei 5: Vengeance e Unicorn Overlord, Metaphor: ReFantazio consegue surpreender...talvez a palavra correta não seja surpreender, mas sim concretizar o que muitos fãs da empresa já imaginavam. Um game com óbvias similaridades com Persona, mas inovando em uma série de aspectos.
Anunciado em 2016 com o codinome Project Re:Fantasy, o jogo seria a primeira obra do estúdio sob a tutela do lendário diretor Katsura Hashino, responsável por títulos memoráveis do gênero JRPG, como Persona e Shin Megami Tensei. Mas ao invés de partir para o óbvio, o diretor foge da mesmice e vai buscar inspirações em histórias ocidentais, como O Senhor dos Anéis, prometendo momentos memoráveis, descobertas incríveis e ação de tirar o fôlego.
Lançado para PlayStation 5 e 4, Xbox Series X|S e PC, o jogo definitivamente mostra que o JRPG está com tudo em 2024, conseguindo diversificar cada título e com notas altíssimas para todos eles. Definitivamente a Atlus tem muito o que comemorar com tudo que ofereceu aos jogadores neste ano.
Vale registrar que como tem sido padrão, todos os jogos agora contam com tradução em português, o que é mais um adicional para que novos jogadores conheçam mais dos títulos da publisher.
O trono está abandonado
Metaphor: ReFantazio apresenta uma história extremamente envolvente, que faz com que você fique vidrado desde o seu início, prestando atenção em cada diálogo dos diversos personagens apresentados. No Reino de Euchronia, unificado após uma série de conflitos envolvendo três nações peculiares, todos clamam e podem buscar sua liderança. Isso tudo devido à morte do rei Hythanlodous VI em seus aposentos, causada secretamente por um militar chamado General Louis, além do fato que o sucessor por direito, o filho do monarca foi amaldiçoado por uma tribo rebelde, deixando o garoto em coma profundo. Antes que o caos e a desordem possam mais uma vez estar em voga dentro do reino, uma figura muito similar ao rei surge dos céus, anunciando que o novo chefe da região será escolhido pelo povo, dando início à luta pelo trono... e pelo futuro.
E é a partir do contexto que qualquer pessoa pode clamar pelo trono que nosso intrépido protagonista surge, diferentemente de todos os estereótipos padrões que buscam o poder, como um líder religioso ou algum militar. Mas não se engane, pois apesar da aparência frágil e introspectiva, ele tem algo muito mais impactante: a amizade verdadeira.
O personagem cujo nome é escolhido logo no início da jornada é amigo de infância do príncipe e busca solucionar não só a origem da maldição, mas como revertê-la para que seu amigo possa assumir o trono que é seu por direito. Mas claro que isso não será resolvido da forma mais óbvia e simplista.
O enredo de Metaphor ReFantazio vai muito além de mais uma história que todos nós já estamos acostumados. Ao longo da épica jornada que pode durar cerca de 100 horas (como manda a cartilha de um bom JRPG) somos apresentados por diversas motivações, que vão desde vingança, preconceito racial, problemas sociais, ganância, entre tantas outras doenças da nossa sociedade atual. Me arrisco a dizer que a história do game é muito mais um conto sócio-político do que qualquer coisa, uma escolha altamente arriscada da Atlus, mas que deu muito certo.
Por mais que você leia “cerca de 100 horas” e isso certamente cause um espanto para quem não está acostumado com jogos de PersonaLike, o tempo passa muito rápido nesse amplo universo, no qual a nossa sociedade é algo que na história do jogo é taxada de utópica. Afinal, como pode, todas as tribos conviverem pacificamente, com direitos iguais. Bem...não vamos falar muito sobre política por aqui.
Conheça os Arquétipos
Como basicamente um grande jogo não se constrói apenas com uma excelente história, Metaphor: ReFantazio conta com um gameplay refinado, que consegue fugir na medida do possível dos já tradicionais combates por turnos. E falo isso de uma forma bastante positiva e surpreendente.
Aqui, as clássicas Personas dão lugar aos Arquétipos, que diferentemente da franquia clássica da Atlus, eles se assemelham as classes de um tradicional RPG (guerreiro, mago, bruxo, etc), que podem ser treinados e usados por todos da sua party, fazendo assim com que tenhamos mais variedade na hora das batalhas.
Vale ressaltar que alguns arquétipos exigem que o personagem tenha um certo nível em sua classe, fazendo com que você tenha que explorar um pouco de cada forma para poder conhecer e jogar com todos. Confesso que achei bastante recompensador essa forma, pois aprecio conhecer um pouco de cada pedaço de estrutura de jogo que o título tem a oferecer.
Falando do combate em si, o estúdio soube explorar muito bem o pré-combate, oferecendo vantagens ao abater o inimigo sem sua percepção, causando uma série de danos que podem até mesmo evitar o combate por turnos. E mesmo sendo fã de JRPG, considero uma ação muito inteligente visando um novo público, deixando as batalhas estratégicas voltadas para criaturas maiores e que realmente exigem algo a mais.
Aproveite o tempo
A essa altura do texto, acho que já deu para perceber que o jogo bebe bastante da fonte de Persona e Shin Megami Tensei. Mas para deixar isso ainda mais em evidência, contamos com uma série de social link, missões secundárias, além da possibilidade de melhorar as habilidades de sua party através de objetivos especiais. Claro, tudo respeitando o calendário que pode ser usado como você bem entender ser mais interessante.
Entre outras atividades também estão os relacionamentos, que são vitais e essenciais para o sucesso nas missões. Além de melhorar as qualidades dos arquétipos, eles podem conferir espaços de memória para cada membro da equipe entre outras coisas. Chama a atenção que em Metaphor: ReFantazio não existe a possibilidade de romance, o que também é uma marca da franquia, mas que venhamos e convenhamos não faz nenhuma falta por aqui.
Um ponto que confesso me incomodar na dinâmica de relacionamento é o fato das opções de diálogos não influenciarem na aproximação do personagem, assim como em Persona. Aqui existe uma facilidade muito clara em criar laços fortes com todos da sua equipe de uma maneira sem a necessidade de responder o que cada membro da party gostaria de ouvir.
Visual de encher os olhos
Se tem um ponto do qual não me canso de elogiar Metaphor: ReFantazio é em como o jogo apresenta um visual belíssimo, com gráficos em cell shading, ao melhor estilo anime em pontos centrais da história. Não só em cutscenes, mas o jogo em si apresenta visuais deslumbrantes nas dungeons, no design dos arquétipos e até mesmo em suas ativações, apesar de alguns travamentos. O momento em que o arquétipo é sumonado pela primeira vez é inesquecível. Não vou entrar em muitos detalhes para não estragar sua experiência.
Não posso deixar de enaltecer em como os menus do game são de um extremo bom gosto, com interfaces características e diferenciadas para cada personagem, o que faz com que sua experiência seja marcante em todos os aspectos do game. Realmente é uma satisfação apertar o pause só para apreciar como cada canto do menu é bem aproveitado e diagramado.
Se você já é um veterano dos outros jogos da publisher, já sabe que a trilha sonora é algo que transcende em todos os momentos da jornada, não é mesmo? Seja em momentos para aproveitar o dia, seja nas batalhas táticas ou até mesmo no avanço das dungeons. Metaphor: ReFantazio tem uma trilha especial para tudo.
A porta de entrada para novos jogadores
Metaphor: ReFantazio possui uma série de qualidades que nenhum outro JRPG tem, o que acredito que pode acabar trazendo novos jogadores para conhecerem mais do gênero. Não é qualquer jogo que consegue nos prender por mais de 80 horas sem que haja um desgaste natural.
Pelo fato do game apresentar um dinamismo maior nas batalhas, sem a necessidade de a cada encontro ser obrigatório enfrentar os inimigos por turno, não seria exagero dizer que existem momentos de hack’n slash na avaentura. Sem dúvida alguma é um grande mérito fugir do padrão JRPG de ser, mesmo que os controles não executem os combos na velocidade de um game do gênero.
A análise de Metaphor: ReFantazio foi realizada em um Xbox Series S, graças ao envio da key pela publisher, ao qual agradecemos pela confiança.
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